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Prato do dia: náuseas, câncer, depressão, alergias respiratórias, dermatites…

Todos os dias, nós temos que comer, isso é um consenso. Afinal, é como se dizia antigamente: saco vazio não para em pé.

A alimentação tem sido uma pauta freqüente de organismos internacionais que lutam contra a fome e a desnutrição, algo que pressiona todos os países do mundo a utilizarem todo o seu potencial hídrico, ambiental e tecnológico para a produção de alimentos.

A nossa sociedade, fundada numa lógica capitalista e numa racionalidade estritamente econômica, na verdade nem está tão interessada assim em produzir alimentos para todos. Produz-se “alimentos” com a finalidade de ganhar dinheiro e acumular, acumular, acumular.

E é dentro desse ponto de vista estritamente econômico que se justifica, além da reprodução de milhões de famintos no mundo por nenhum acesso a qualquer tipo de alimentação (que pode ser uma discussão para um próximo post), o uso de insumos que podem contribuir com o aumento e uma padronização da produção desses “alimentos”.

Notem que coloquei a palavra alimentos entre aspas e não é à toa, pois dado a essa massificação da produção, a qualidade desses “alimentos” ficam parcialmente ou totalmente comprometida. Então, nós, que somos privilegiados de ter acesso a esses “alimentos” achamos que estamos nos alimentando, quanto na verdade estamos nos envenenando e envenenando outros todos os dias.

Nas frutas, verduras e grãos que compramos nos mercadinhos e grandes redes de mercantis, ou mesmo na comida dos restaurantes estão presentes essa dose de veneno: que são os agrotóxicos usados no processo produtivo desses gêneros alimentícios para que os produtores tenham o benefício esperado na sua produção.

Desde que comecei a militar nos movimentos ambientalista e do campo, tive contato com informações bastante preocupantes. O Brasil, por exemplo, se tornou no ano de 2008 o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, movidos por essa pressão em se produzir alimentos. São 470 ingredientes ativos, apresentados em 1.079 produtos formulados, gerando um lucro extraordinário as indústrias químicas!

Pesquisas em todo país têm apontado que o uso dos agrotóxicos causa contaminação do meio ambiente (próximo post) e do ser humano. Note que enquanto para os produtores é um negócio interessante o custo com esses produtos – pois além de terem a produção desejada (maximizam a sua produção e os seus lucros), eles repassam os preços dos insumos (inclusive o veneno) para o consumidor final – a mesma sociedade capitalista tem um custo externo, sob as mais diversas maneiras: perda do patrimônio ambiental e malefícios a própria saúde!

Mesmo sendo um problema que atinge toda a sociedade, os prejuízos ainda são mais fortemente sentidos por aqueles/as que ou trabalham na produção desses alimentos, ou vivem em áreas próximas a estes – ou seja, é também um problema de classe.

Estudos apontam que a exposição direta desses/as trabalhadores/as aos agrotóxicos pode causar intoxicações agudas, acompanhadas de sintomas¸ como náuseas, mas também diversos efeitos crônicos como o câncer, depressão, alergias respiratórias, dermatites, genotoxidade (mutagênese), alterações na reprodução, efeitos sobre o desenvolvimento e má formação congênita. São os chamados danos de curto prazo.

Intoxicação, distúrbios neurológicos e câncer são os problemas de saúde que chegam silenciosamente (danos de médio prazo) às comunidades que sobrevivem dos ecossistemas adjacentes a essas áreas de produção, que estão sendo também contaminados via lixiviação do solo ou poluição dos rios e lençóis freáticos.

Os danos de longo prazo são sentidos por nós consumidores, que ao comprarmos esses produtos, fazemos a roda girar novamente, adoecendo primeiramente os mais vulnerabilizados, até que cometamos o nosso próprio suicídio.

Qual é a alternativa para isso? Há um extenso e fecundo saber popular e tradicional entre os diferentes grupos de trabalhadores/as do campo que precisa ser valorizado – a agricultura familiar e camponesa e a agroecologia, que produz alimentos orgânicos. Em várias cidades do Brasil já existem grupos de pequenos produtores/as rurais que realizam feiras de produtos oriundos dessa forma de agricultura. Quanto mais procuramos por esse tipo de produto (ao invés do cheio de veneno), quanto mais acessamos as informações sobre os malefícios dos agrotóxicos, quanto mais participamos de debates sobre o tema, e quanto mais apoiarmos os movimentos sociais (como o MST) e esses grupos de agricultores/as familiares, mais pressionaremos o poder público a tomar medidas que façam a transição dessa cultura de morte para uma agricultura pemanente (Permacultura).

Então? Vai continuar se matando, mantando quem tu alimentas e quem produz a tua alimentação?